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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A historia do cavalinho de pau.



A história do cavalinho de pau

       Conta à história que a atriz preocupadíssima que sua atuação fosse eivada de sucesso e brilhantismo  propôs ao Diretor ou Encenador,  esta  segunda denominação está sendo largamente utilizada na contemporaneidade, em virtude disso existem explicações teoricamente tão complexas  sobre as diferenças entre os dois termos que não vale a pena discutir neste texto, mas vamos ao diálogo:
Atriz - (convicta) Nesta cena eu vou entrar com um cavalinho de pau.
Diretor – (irritadíssimo) Não! Você não vai colocar o seu cavalinho de pau na minha cena.

        A partir do final do século dezenove e durante todo século vinte o Diretor Teatral tornou-se a figura absoluta do espetáculo E. G Craig afirmava  que o melhor ator seria uma de marionete turbinada ( Über marionete),  afirmava com muita tranqüilidade: "Seu objetivo não é se tornar um ator célebre, mas um artista de teatro... Se após cinco anos de palco você tiver sucesso, considere-se perdido. É preciso dedicar a vida inteira à arte." Parece impossível acreditar mas poucos Grupos, Companhias ou Laboratórios  teatrais perseveraram nos últimos cem anos sem essas “magnânimas” figuras; os Mestres de Cena.

       Na realidade o Encenador de magnânimo tem muito pouco, em geral, a conduta dessas vedetes da arte dramática, às vezes, é despótica. Eles decidem como será a montagem, distribuem as funções, espinafram o elenco, etc. Diplomata e general do coletivo elaboram estratégias e táticas de guerra na luta histórica que o teatro trava pela sua sobrevivência.

      Único detentor da tradução exata da linguagem empregada pelo grupo no espetáculo, o diretor tornou-se, em muitos casos, a prima-dona do teatro.

 Os tiranizados (atores e atrizes) apóiam e, em alguns casos, pagariam para viver sob o julgo desses suseranos.  C. Stanislavisk afirmava: “ Se o teatro não puder enobrecê-lo abandone-o”.  E frisava: “Não ponha seus pés sujos de lama no teatro”.  B. Brecht  montava a mesma cena durante dias de centenas de jeitos diferentes e ao final saia dos ensaios profundamente insatisfeito com seus atores.  J. Grotowski  submetia seus interpretes a uma disciplina tão rígida  que os levava, após horas seguidas de treinamento ininterrupto, a um estado de super excitação psicofísica-emocional , ideal segundo sua concepção, a criação. E. Barba, no começo do Odin, demorava quatro anos para montar um espetáculo com atores e atrizes vivendo quase que totalmente reclusos. Quem do teatro não se submeteria a tão maravilhosas “ditaduras” para alcançar resultados artísticos tão surpreendentes?  

        Existe uma lenda que um ator dirigido por J.C Martinez ingenuamente pergunta ao Diretor: “- Onde devo me posicionar nesta cena Zé Celso”. O cérebro que criou o Oficina estranhando aquela presença responde: “- Quem é você? O ator completamente aturdido: “- Sou o fulano. Já estou trabalhando a mais de um ano com você...”  E Martinez friamente encerra a conversa: “- Pois fique daquele lado.”

       Grandes encenadores tornam-se figuras míticas. Dizem que um ator liga quase sem voz para criador do CPT Antunes Filho: “-Antunes estou muito doente com quase 40 de febre não tem como ir ensaiar.” Antunes responde secamente e bate o telefone: “- Por acaso você já morreu.” Se tais histórias são verdadeiras ou mera ficção não importa, elas ilustram  o poder e o caráter  dos Mestres da Cena.

     Diretores de Teatro, geralmente, entram para arte  pela porta larga dos atores e, independentemente dos seus êxitos como intérpretes, trazem características peculiares: são absolutamente alucinados por tudo que diz respeito as artes em geral e as cênicas em específico, disciplinados, possuem espírito investigativo, muitos são leitores compulsivos, escrevem eventualmente, tem um certo dom de liderança, rapidez nas respostas e trazem um olhar diferenciado sobre as coisas do mundo, filosófico mesmo. Quem não traz esses traços de caráter dificilmente será um bom Encenador.

       No final do século vinte e início do século vinte e um surge (definitivamente) uma outra criatura que disputa, em muitos casos, a soberania do Diretor Teatral, trata-se do Produtor Cultural, esse personagem não ambiciona o estrelato, nem se preocupa com os grandes dilemas do teatro mas, é o único, que em cem anos ameaça o poder absolutista do Encenadores. Eles tem a força de conseguir a grana que constrói sonhos. São invisíveis a olho nu  e essenciais aos coletivos. O impacto dos Produtores na arte dramática só o tempo dirá. Afinal, “O valor das coisas muda a luz do espiritual ou nas trevas do material”.

               Com relação a história do  cavalinho de pau?  A atriz teimou e entrou com ele em cena. Até onde eu sei, ela e o Diretor nunca mais trabalharam juntos, desde esse fatídico dia. Faltou habilidade por parte da atriz em camuflar (ou negociar) a sua subversão e ao Encenador paciência para explicar que naquele momento, ao ver o todo, comprovou que era melhor o cavalinho ficar no estábulo dos signos imprestáveis, pelo menos até uma outra aventura. 

 

Por Adriano Abreu Diretor do Puty.Teatro Labore

      

      

 

      

        

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Leverdógio




"Tive o privilégio de assistir uma apresentação dele há muitos anos no Teatro do Boi,  foi realmente uma beleza. Infelizmente ele nos deixou, mas ficou sua performance na minha cabeça. Encontrei essa crônica e algumas frases do Lever,desculpe a intimidade mas tambem sou um homem de teatro, fica como meu agradecimento tardio mas sincero."
 Adriano Abreu - Diretor do Puty Teatro Labore.

Encontro Inusitado.
Julio Conte

              Eu ia para a palestra do Eugenio Barba, era cedo, parei na Casa de Cultura Mario Quintana. Falei com uns amigos que estava por ali. Tomei uma taça de espumante e fui em direção do carro. Era final da tarde, sombras tênues se adensavam sobre os as pessoas. Fumaças e cheiros sobre uma multidão portoalegrense alvorotada pelo final do dia. E ali no meio de tudo e de todos enxerguei alguém que me pareceu ser o ator Leverdógil de Freitas. Tudo igual. O formato do corpo, denso e redondo, o pescoço mergulhado no tórax e um desleixo ao se mover. Ele caminhava de um modo habitual, rebolando a barriga e com um sorriso sarcástico que lhe era bem peculiar. Ele era assim enquanto estava vivo. Depois de um minuto de silêncio e estarrecimento, apoiado na realidade de que mortos não caminham entre os vivos, me aproximei do Lever – era como todos o chamavam - certo que quando ele se virasse eu teria que pedir desculpas, que pensara que fosse outra pessoa, que ele era muito amigo de uma pessoa saudosa e que assim eu sairia aliviado do encontro metafísico. Pois quando cutuquei no ombro quem se virou e olhou para mim e falou comigo era o próprio Leverdógil de Freitas, o ator. Premiado no teatro, no cinema, homenageado no Porto Alegre Em Cena, cujo currículo tem a apresentação de um monólogo para uma espectadora e ao final da peça, a convidou para jantar. Vocês podem não acreditar, achar que alucinei, achar que estou inventando, que estou imaginando coisas e talvez todas as hipóteses acima sejam verdadeiras. O fato é que quase infartei, quase cai para trás, quase dei um grito, quase pirei, embora sobre isso ainda seja cedo para ter uma opinião definitiva. O fato é que eu estava no meio da Rua da Praia, perto da Casa de Cultura e parado na minha frente estava o Lever uns dez anos depois de ele ter morrido! Fiquei pensando, porra, o que se diz numa hora destas. E perguntei então:
- Opa, como é que vai?
Ele me desceu o queixo que mergulhava no pescoço formando um bloco único, deitou levemente a cabeça em direção ao ombro formando um complacente sorriso de escárnio falou:
- O que tu acha?
Eu ri e lembrei todos as as vezes em que ele despejou sua ironia sobre o prosaico nosso de cada dia. O Lever por aqui, puxa, o mundo ficou melhor por um instante. Deve estar acontecendo alguma coisa especial em Porto Alegre para ele aparecer assim do nada. Não me contendo a curiosidade:
- O que tu está fazendo por aqui?
- Nada. Cansei da eterna pasmaceira e resolvi dar uma fugidinha. Porto Alegre na hora do entardecer faz os fantasmas passearem anônimos para usufruir o por do sol.
- Eu estou indo ver o Barba – falei quase que me desculpando.
- Que Barba? Ele riu e começou a caminhar em direção ao Rio Guaíba. E tem gente que chama de Lago. Completou o Lever.
- Oh, meu caminha mais devagar. E a tua asma?
- Sabe a bombinha? Não uso mais.
- E o teatro, perguntei meio sem saber o que falar.
- Nem me fale senão perco a vontade de passear por aqui.
- E como é lá?
- Júlio, - ele fez uma pausa e pude ficar lado a lado com Lever - tem coisas que só morrendo para saber.
E saiu feliz iluminado pela luz transversa do inverno que se aproxima e de passear na terra sem as conseqüências de estar vivo.

Frases de Leverdógio

"Tu crias um personagem como se ele fosse uma pessoa. Ele tem identidade, CPF. Ele sente, gosta de algumas coisas, não gosta de outras." 
 "Para construir um personagem completo, convincente, é preciso tempo, porque ele terá as coisas que tu sabes dele, mas que não são tuas. Tu precisas andar como ele, dormir como ele, sentir como ele".

Leverdógio de Freitas

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Lamentamos por considerarmos um evento importante

Nota oficial da Coordenação Geral do FestLuso

O FestLuso, Festival de Teatro Lusófono, nasceu em 2008 depois de mais de 10 anos sendo gestado. A proposta é provocar um intercâmbio continuado entre os 8 palcos lusófonos: Brasil, Angola, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Guiné Bissau e a recém acolhida região da Espanha, Galícia.

Quando a idéia foi lançada, veio a pergunta: por que algo tão grande em uma cidade deslocada do eixo Rio-São Paulo? Simples. Para deslocar o eixo. E muitos tiveram de engolir a seco os ácidos comentários de que tal iniciativa não daria certo quando, em agosto daquele ano, Teresina se tornava palco mundial da lusofonia. A primeira edição contou com 120 convidados de 7 países falantes da Língua Portguesa. Uma vasta programação polarizada em três teatros: 4 de Setembro, João Paulo II e Estação, além de mostra de rua, oficinas, debates e shows.

No ano seguinte, repetia-se o sucesso e o Piauí conseguia firmar lugar na comunidade lusófona com uma grandiosa segunda edição, a mesma que recebeu a atriz Regina Duarte e lançou o livro “O Morto, Os Vivos e o Peixe-Frito”, do escritor angolano e vencedor do prêmio Jabuti Ondjaki.

O terceiro ano tinha tudo para ser ainda maior: o FestLuso teria a oportunidade de sediar o 2º Encontro Internacional Sobre Políticas de Intercâmbio em parceria com a entidade portuguesa Cena Lusófona. Com a data alterada por conta do período eleitoral, o festival foi agendado para novembro, de 15 a 21.

Porém, a noite desta quinta-feira (11) a quatro dias da abertura do evento, uma notícia desestabilizou a equipe do festival. O governo do Estado do Piauí negou qualquer apoio financeiro para a realização do tal. Diante das argumentações dos coordenadores, o governador reeleito Wilson Martins alegou falta de recursos e disse: “Cancelem o festival”.

Sem a participação do Estado, o FestLuso vê-se obrigado a cancelar 60% de sua programação, incluindo espetáculos locais, nacionais, mostra de teatro de rua e shows, nessa conta uma das atrações mais esperadas desta edição, o músico Jorge Mautner.

A burocracia também impediu que uma emenda proposta pelo deputado federal Osmar Júnior (PCdoB) para o festival fosse conveniada a tempo no Ministério da Cultura. Resultado: menos recursos.

Contando apenas com o patrocínio da Oi e da Funarte, o FestLuso receberá os grupos internacionais e manterá o Encontro Internacional. A coordenação lamenta que tenha que abrir mão da grandiosidade de seu festival por conta da desconsideração do governo. Ainda que a cultura seja muitas vezes minimizada em detrimento de “causas maiores”, esses operários insistem que não querem só comida. Eles querem comida, diversão e arte.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Avant-premiére do espetáculo o Rouxinol e a Rosa

Aconteceu nos dias 29, 30 e 31 de outubro no espaço cultural  Trilhos de Teatro a avant-premiére do Espetáculo o "Rouxinol e a Rosa". Nos 3 dias os convidados puderam ver o projeto e conversar com atores e diretores desse trabalho. Veja algumas fotos do espetáculo do Puty.Teatro Labore:












                                                                                                                                                                 Fotos: Jairo Moura